18 de julho de 2023.

No dia 28 de junho de 2023, a Rede Rio Criança e o CIESPI/PUC-Rio promoveram um encontro para discutir duas questões principais: “qual o contexto atual das crianças e dos adolescentes em situação de rua?” e “como as instituições estão se organizando frente a esse cenário?”.

Contamos com a presença de representantes de organizações que historicamente atendem a essa população na cidade do Rio de Janeiro, como a Associação Beneficente São Martinho, Associação Beneficente AMAR e Se Essa Rua Fosse Minha. Eles evidenciaram os desafios de sua atuação profissional frente às mudanças ocorridas no cenário das ruas. Essas transformações ocorrem de tempos em tempos, e, atualmente, associam-se especialmente à pandemia de Covid-19, a seus impactos socioeconômicos e ao desmonte de políticas públicas ocorrido ao longo do último governo. Vivenciam ainda a redução do financiamento para projetos e ações voltados para aqueles em situação de rua e o aumento da intolerância contra essa população.

Os participantes do encontro destacaram que os educadores sociais vêm se esforçando para fortalecer vínculos com crianças e adolescentes que hoje têm outros interesses para além das brincadeiras e do acolhimento antes ofertado. Eles enfrentam críticas da sociedade, que deseja soluções imediatas para tirar de circulação aqueles que vivem em situação de rua, favorecendo ações ineficazes de recolhimento compulsório de pessoas e de seus pertences. E, ainda, são obrigados a ofertar serviços limitados, frente a desmobilização da rede de proteção, incapazes de contemplar a heterogeneidade dessa população.

Embora tenha se tornado incomum encontrar grandes grupos de crianças e adolescentes em situação de rua circulando pelo centro da cidade, como ocorria nos anos 1980/1990, é preciso reorientar olhares e qualificar ações de modo a atender aqueles que, desde a realização dos megaeventos no Rio de Janeiro, temem permanecer nas ruas e se abrigam em ocupações, nas periferias da cidade e/ou em cenas de uso de drogas. Eles também seguem tendo seu trabalho infantil explorado nas ruas ou mesmo perambulam acompanhados de suas famílias, desalojadas de suas casas por diferentes circunstâncias, como o aumento da pobreza e da violência.

Compreender quem são e onde estão as crianças e os adolescentes em situação de rua hoje passa pela ampliação desse conceito, expressa na Resolução CNAS/CONANDA 001/2016. É preciso entender as mudanças ocorridas e se adaptar a elas, oferecendo atendimento e lutando pelos direitos daqueles que seguem sofrendo com a desatenção e a falta de investimentos do Estado.